Logo que vi a notícia sobre os pais e professores de uma escola de Minas que achavam a leitura de Dalton Trevisan imprópria para seus filhos pensei que se tratava de mais uma bobagem sem tamanho, uma tentativa de impor um código moral na literatura quando não se aplica em outras mídias (cinema, TV, etc.). Cheguei até a planejar escrever algo sobre isso, mas aí lembrei de como era quando eu era adolescente: se me falassem que eu não podia, aí sim que eu ia cismar com aquilo. Então minha conclusão do caso todo é que bem, esses pais e professores acabaram prestando um favor à molecada. Consigo imaginar títulos de Dalton sendo lidos clandestinamente, passados de mão em mão – mais ou menos como aconteceu comigo com Christiane F., quando tinha 12 anos. Ok, na realidade eu fico torcendo por isso. Porque Dalton não carrega o título de “um-dos-melhores-contistas-brasileiros” por nada. Escrevendo há tantos anos, o autor já trabalhou o conto das maneiras mais variadas, dilapidando de modo a tirar toda a gordura, e mesmo com contos hai-kais ainda assim consegue criar grande efeito no leitor.
É o que fica evidente em Frufru Rataplã Dolores, coletânea lançada pela L&PM recentemente. O livro é bastante curto (não chega a 130 páginas) e traz uma série de contos publicados anteriormente em livros que saíram pela Editora Record. A ideia, ao que me parece, é ter uma espécie de “menu degustação” de Dalton, de modo a conhecer melhor seu trabalho. E de fato, a essência do contista está ali, nos pequenos retratos do cotidiano de gente absolutamente normal, com toda a variedade de qualidades e defeitos que qualquer um pode ter. Não são heróis, não são perfeitos e justamente por isso encantam (e talvez também por isso incomodem?). Com Dalton Trevisan o ordinário é colocado sob uma lente de aumento, e podemos observá-lo dos mais diferentes ângulos.