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Geração Subzero: 20 autores congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores

Uma proposta interessantíssima, um péssimo timing. Era o que eu pensava enquanto lia cada um dos 20 contos que fazem parte do livro Geração Subzero: 20 autores congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores, organizado por Felipe Pena e publicado pela Record. Já começa com a introdução do próprio Felipe Pena, que embora apresente ideias com as quais não concordo totalmente, ainda assim tem o mérito de levantar questões que precisam ser debatidas quando falamos de literatura no Brasil. A começar por: quando foi que criamos esse critério de só é bom o que é hermético, ou, em outras palavras, só para iniciados? Qual o problema da literatura de entretenimento, sem preocupações estéticas, se a própria origem da literatura era a mera contação de histórias? O resultado disso é uma anomalia em que todo mundo diz que lê o mais novo queridinho da crítica especializada, mas quem vende mesmo é aquele que está sempre sendo chutado como uma espécie de cachorro morto, nem que seja para que com a crítica a um autor a pessoa ganhe um rótulo de “inteligente”. Você já conheceu um tipo assim, eu tenho certeza: ele é o que torce nariz para qualquer bestsellerYA ou chick-lit lançado, não porque tenha lido e achado ruim, mas simplesmente porque são bestsellerYA e chick-lit, livros conhecidos por suas estruturas mais simples, enredos mais básicos etc.

Pena traz então o Manifesto Silvestre, que basicamente tenta resgatar a ideia da leitura atrelada à história em si, e não aos diferentes recursos literários que alguns escritores costumam utilizar na chamada “alta literatura”. Aqui, minha ressalva é que, embora tente adotar um tom bastante político, ele acaba dando algumas alfinetadas desnecessárias nos autores que, considerando o subtítulo, são adorados pela crítica. Há pelo menos dois itens que deixaram esta sensação, o quarto e o décimo. Um fala de “Academicismos, jogos de linguagem e experimentalismos vazios” e o outro de “Quem não é moderninho é superficial”. Acredito que era possível passar sem isso, até porque pelo que entendi de grande parte do texto o Manifesto não é uma crítica a quem inova ou algo assim, mas aos detratores do outro tipo de literatura, normalmente qualificada “de entretenimento”. A premissa básica é: pegue este livro, e lembre como existem outras maneiras de se divertir lendo. Só que aí com estes itens (e de novo, o subtítulo) algumas pessoas podem pensar que é algo como “Pegue este livro e… mimimi queremos ser estudados nos cursos de Letras também!”. Eu sei que o segundo caso não era a intenção do Pena, mas acabou soando um pouco assim, e aí entra a questão do timing ruim.

Geração Subzero saiu quase junto com a já famosa seleção da Granta dos “melhores autores jovens brasileiros”. E muito embora não pareça uma resposta do time dos que ficaram de fora da Granta (até porque há de se considerar todo o tempo que levou o processo de publicação de Geração Subzero), ainda assim algumas pessoas podem ter a ideia (errada) de que a coletânea organizada por Pena veio para rivalizar com a lançada pela Alfaguara. Algo como: ok, vocês têm os melhores. Mas nós temos os que vendem mais. Tivesse saído dois meses antes ou dois meses depois, essa impressão não ficaria no ar. O problema é que com isso, a Geração Subzero pode perder justamente os leitores que deveriam ler o livro (sim, o chato que descrevi no primeiro parágrafo) – porque não duvido que só os nomes de Spohr e Vianco na capa já faça esse volume vender bastante. Mas venderá para quem não tem nenhuma neura sobre ler literatura de entretenimento. Aqueles mais inseguros, que acham que ler uma Thalita Rebouças os torna menos inteligentes (uma dica: se você pensa assim, você já é um idiota. Não esquenta a cabeça com isso não, filho), vão passar reto pelo livro e vão perder não só a proposta do Pena, mas alguns ótimos contos, simplesmente por imaginarem o livro como uma anti-Granta ou algo que o valha.

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Arte e Letra: Estórias N

Ao comentar a edição anterior da revista Arte e Letra: Estórias (M), falei da importância desse tipo de coletânea para não só apresentar novos autores como também resgatar alguns antigos, famosos em seu tempo, mas pouco conhecidos do público moderno. A edição seguinte, N, foge um pouco dessa proposta por trazer em quase sua totalidade nomes já consagrados da literatura, que tem bastante destaque atualmente, cada qual dentro do seu nicho literário. O que obviamente não é ruim – há contos ali que já tem algum tempo que gostaria de ler, mas ainda não tivera oportunidade, como por exemplo O cair da noite de Isaac Asimov.

Quem abre a coletânea é Katherine Mansfield, com As filhas do falecido coronel, traduzido por Beatriz Sidou. No melhor do estilo de Mansfield, temos um pequeno recorte de um momento da vida de personagens comuns, que acabam trazendo à tona muito do psicológico das personagens. Aqui, Josephine e Constantia refletem sobre suas vidas após a morte do pai, o coronel.

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